quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Oq é tão doce assim?

Contemplou o luar. Se espreguiçou
Pensando na morte e um pouco na vida
Tomou outra xícara de café e fumou um cigarro adocicado
Falou dos planos que não tinha. Pegou no sono
Amanheceu na calçada de um mundo parado
Um corpo esguio e nu
Frágil e gelado
O sangue escorria pelo meio fio
De uma rua escura
Em um bairro vazio
Carro aberto logo à frente
Rádio tocando MPB
A chave ainda no contato
O conhaque a escorrer
Chorava ou sorria?
Já não dá pra perceber
A brisa gelada da noite
Ajudava a esconder
Crianças pulavam o corpo
Curiosos fingiam não ver
Talvez aquelas pessoas tivessem algo pra dizer
Precisava chegar à alma delas
Ou não sei o que
Destes brancos materialistas
Não tem ninguém pra socorrer
E era justamente o que queria
Pois a morte era o único lugar que merecia uma visita.
Em um embrulho de jornal levou as lembranças das noites agressivas
Embaladas pelas músicas que mais ouvia
Levou as cores disfarçadas de preto e branco
E os amores com o gosto do álcool que bebia
Se vestiu de êxtase e pó
Se embriagou de alegrias
Se perfumou de dó
Pra esconder dos inimigos as coisas que sentia
E não deixar o endereço de onde está.
O último trago fez a lua apagar
A marca do batom ficou pra dizer:
“Da maneira mais doce a morte veio me buscar”.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Acordada

Pessoas esquisitas, excêntricas, e o sol amarelo que não aquecia mais. A rua cercada de casas velhas. A sensação de que, sem dúvida, ninguém me entendia, de que ninguém sabia quem eu era e o que me levava até lá. Quando fechava os olhos, tudo ao meu redor parecia vazio, frio, simplesmente. Como se estivesse no lugar mais solitário do mundo. No meio de lugar nenhum.
E me sentei na cama, e por um instante desejei que você se sentasse ao meu lado e pusesse seu braço ao meu redor e dissesse que tudo ficaria bem.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Adaptação

Estava enrolada
Debaixo da escada,
Numa casa fechada
Esperando que um dia
Alguma coisa acontecesse.
Antes que se perdesse
Sentiu passar um vento cor-de-rosa.
Toda prosa
Pintou os lábios
E sem vergonha
Caprichou no decote
A felicidade volta à praça
Cheia de dengo e de graça,
Com perfume novo no cangote.