sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sentinela do nada

Permaneceu noites inteiras no quintal...
Adquiriu o habito de falar sozinho
Se alimentar do silêncio
Passeou pela casa sem se incomodar com ninguém
Sem dar crédito ao próprio entendimento
Tomou um gole do que não conhecia
Se sentiu o resultado de um longo processo de individualização
Percebeu que não existia viagem mais longa do que aquela ao nosso interior
Nem mais embaraçosa
Nada é perfeito...
A morte o seguiu por todas as partes
Chão vermelho, cor de barro
Cor de sangue sangrado.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ela tem cara de Margareth

Ela tem um sorriso bacana
Interesses inconfessáveis
Tem os cabelos enrolados
Acobreados
Um perfume sutil
Passa as tardes de domingo esparramada na grama
Ela não liga muito pra como as coisas acontecem
Nem tem vontade de perguntar o porquê
Vê o sol como um recorte laranja em um céu de papelão
Acho que ela se sente melhor assim
Melhor que andar só olhando pro chão
Acha seu quarto pequeno
E o mundo grande demais
Se veste de sol às quartas feiras
Ri de piadas banais
Se recusou a amar
Quis chorar
Mas conseguiu sorrir
Sabe que o amor tem hora
Pra chegar
E pra partir...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Esquecer faz bem

Leia só as rimas do poema
Esqueça a introdução
Coma só a sobremesa
Faz de conta que já comeu o feijão
Coloque gelo
Pra esquecer da dor
Ar condicionado
Pra esquecer do calor
Os portões dão pra onde?
Eu me esqueci
Me esqueci dos caminhos que me levam aos mesmos lugares
Esqueci o celular sobre a mesa
Como se esquece uma pêra
Dormindo numa fruteira
Esqueci a profundidade do mar
Quando molhei meus dedos
Como você se esquece do mundo
Nas constelações dos meus cabelos.