quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Juntos.

De buracos e lama vinham, sobre buracos e lama andavam, e agora, tanto escuro fazia, nem se podia ver onde os pés pousavam.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Chuva que não vai-se embora.

E quando a terra já não pode com tanta água, nem cuidamos de saber se é o céu que nos molha, se é a terra que nos encharca.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ouça

As vezes ouço passar o vento.
E só de ouvir o vento passar...
Me atrevo a olhar pro alto
Mesmo sem ter o que ver
Me atrevo a olhar pro lado
Mesmo sem ter onde parar...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sentinela do nada

Permaneceu noites inteiras no quintal...
Adquiriu o habito de falar sozinho
Se alimentar do silêncio
Passeou pela casa sem se incomodar com ninguém
Sem dar crédito ao próprio entendimento
Tomou um gole do que não conhecia
Se sentiu o resultado de um longo processo de individualização
Percebeu que não existia viagem mais longa do que aquela ao nosso interior
Nem mais embaraçosa
Nada é perfeito...
A morte o seguiu por todas as partes
Chão vermelho, cor de barro
Cor de sangue sangrado.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ela tem cara de Margareth

Ela tem um sorriso bacana
Interesses inconfessáveis
Tem os cabelos enrolados
Acobreados
Um perfume sutil
Passa as tardes de domingo esparramada na grama
Ela não liga muito pra como as coisas acontecem
Nem tem vontade de perguntar o porquê
Vê o sol como um recorte laranja em um céu de papelão
Acho que ela se sente melhor assim
Melhor que andar só olhando pro chão
Acha seu quarto pequeno
E o mundo grande demais
Se veste de sol às quartas feiras
Ri de piadas banais
Se recusou a amar
Quis chorar
Mas conseguiu sorrir
Sabe que o amor tem hora
Pra chegar
E pra partir...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Esquecer faz bem

Leia só as rimas do poema
Esqueça a introdução
Coma só a sobremesa
Faz de conta que já comeu o feijão
Coloque gelo
Pra esquecer da dor
Ar condicionado
Pra esquecer do calor
Os portões dão pra onde?
Eu me esqueci
Me esqueci dos caminhos que me levam aos mesmos lugares
Esqueci o celular sobre a mesa
Como se esquece uma pêra
Dormindo numa fruteira
Esqueci a profundidade do mar
Quando molhei meus dedos
Como você se esquece do mundo
Nas constelações dos meus cabelos.

domingo, 18 de julho de 2010

Aprender a nadar

"Eu deixei o meu barco, lá na praia, pra buscar outro mar..."

domingo, 27 de junho de 2010

Domingo.

O mar estava molhado, e mais não podia estar.
A areia estava seca a não poder mais secar.
Nuvem, não havia nenhuma no céu a flutuar.
Não havia pássaros para voar...

domingo, 18 de abril de 2010

O acaso

Numa fuga para o ponto de partida
Num perto que é tão longe
O sal no mar
Com um milhão de coisas pra falar
Me sentei na cadeira da cozinha
Me deixei embriagar
Com tudo o que via ao meu redor
A cor do meu esmalte
O meu cabelo
Roupa de quem nem quer saber se já mudou a estação
Janelas abertas
A mesa posta
O chão
Coloridos desenhos desencontrados
O sol
Me procurando pela casa
Desviando dos quadros
Quadrados
O silêncio
Me esperando no sofá
Pra ficar cada um do seu lado
Eu do lado de cá, ele do lado de lá
Alguns livros
Aquela música
Alguma coisa pra beber
Me perco em alguns olhares
Me encontro em algumas palavras
O acaso não escolhe
Nem dias
Nem lugares.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Acordada

Pessoas esquisitas, excêntricas, e o sol amarelo que não aquecia mais. A rua cercada de casas velhas. A sensação de que, sem dúvida, ninguém me entendia, de que ninguém sabia quem eu era e o que me levava até lá. Quando fechava os olhos, tudo ao meu redor parecia vazio, frio, simplesmente. Como se estivesse no lugar mais solitário do mundo. No meio de lugar nenhum.
E me sentei na cama e por um instante desejei que você se sentasse ao meu lado e pusesse seu braço ao meu redor e dissesse que tudo ficaria bem.

domingo, 28 de março de 2010

Licor de damasco

As paredes do poço
E a casa da montanha
No topo
O sorriso de domingo
E a sala varrida pelo sol que se põe
Tive vontade de pintar nas paredes do meu quarto de menina
Minhas idéias malucas
Meu pequeno infinito
E o vento entra cantando
Bem baixinho, bem baixinho...
Só pra embalar meu sono
Sono fácil de tarde inteira brincando
Só então percebi que as coisas vão acontecendo muito lentamente
E você me pede para ler uma história
Doce e simplesmente
E então você me chama pra brincar de esconder
Sem que eu perceba, foge...
E eu já vou,
Só mais um gole...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Labirinto

Acordei perdida
Vestido de pano leve
Cabelo desfeito
Fantasmas me sopravam aos ouvidos
Há um incêndio sob a chuva rala
Matando meus heróis aos poucos
Comecei a cantar para as sementes mal plantadas
Nem mesmo o tédio me surpreende mais
Universo subterrâneo
Espetáculo assustador
Entranhas sangrentas
Artes carnais
Eu bem que merecia uma salvação
Qualquer que seja
Pra me livrar desses dias tão normais
Enlouquecer?
Ou sorrir?
Eu sou uma contradição
E foge da minha mão fazer com que tudo o que eu digo
Faça algum sentido

quinta-feira, 4 de março de 2010

Segunda via. (Sou duas).

Vamos levar o resto da vida
Até que o sol nos coma o colorido
Dar com a cabeça em um muro
Indestrutível
Pensar pra dentro coisas de fora
Ter fome da extensão do tempo
Acordar pra poder dormir
Amaldiçoar as gaivotas por sua habilidade de voar
E as andorinhas por sua facilidade em partir
Em busca de calor
Queria um pomar
Queria um amor
Queria ser duas
Ser inteira
Ser segunda via
Inteiramente alheia
Plantar flores na pia
Abraçar o mar
Dar boa noite ao dia

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pq não?

Comer comida com a mão
Porque perdeu a colher
Querer dormir e deitar no chão
Num canto qualquer
Ninguém quer sua boa educação
Nós bebemos
E falamos palavrão
Não sorrimos a toa
Respiramos ar em combustão
Me esqueci de usar palavras para mudar a sua vida
Mas é saudável te dar outra opção
O sentido me incomoda
A verdade tem outra versão
Talvez eu perca a cabeça
E espere a chuva de fogo
Da língua do dragão
Me deixe só até a hora de voltar
Não entendo seu sermão
Vou até o fim de mim
Só sei andar na contramão.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Romãzeira

Prédios baratos,
Geminados,
Como livros na estante
Nuvens que não saem do lugar
A cor do vento
O chão ardente
Seu jeito de respirar antes de falar
Sua vocação para a literatura
Conjugar verbos para relaxar
Lê em voz alta,
Teorias,
Como se fossem romances.
Aconteceu,
Porque não havia acontecido antes,
Dos seus passos encontrarem os meus
Dos sonhos serem inventados...
E nosso pomar floresceu.