O gosto que ela tem

Gosto dos raros cochilos às 3hs da tarde,

Gosto de olhar o sol através das folhas de um arbusto lá fora,

Gosto das quartas feiras,

Gosto de você, e do melhor de você eu gosto mais do que imagina,

Gosto de ler na cama,

Gosto de correr com fitas pelo chão pra provocar os gatos,

Gosto de dormir apertada contra um corpo que eu conheço bem,

Gosto de ver como ficaram as fotos,

Gosto que me ajudem a suportar os feriados,

Gosto de grampos de cabelo em cima da mesa,

Gosto de conhecer as mesmas paredes,

Gosto de conhecer as mesmas pessoas,

Gosto de conversar sobre as coisas,

Gosto de falar,

Gosto de ficar em silêncio,

Gosto de rir de qualquer besteira,

Gosto da idéia de me perder por aí,

Gosto da idéia de me encontrar nesse por aí,

Gosto do mar,

Gosto de azeitonas pretas,

Gosto de rabanetes,

Gosto de cervejas,

Gosto do gosto,

Gosto de cozinhar pra quem eu gosto,

Gosto de cebolas,

Gosto de flores,

Gosto das cores,

Gosto da vida que eu vejo pela janela,

Gosto da chuva,

Gosto de sentir saudade,

Gosto dos abraços apertados,

Gosto dos amores intensos,

Gosto das músicas que tocam no meu rádio,

Gosto quando há uma batida na porta, e é ela.

 

Submergir

Eu voltei do fundo mar

Odiando as ondas que me queriam

Por me obrigarem a contar coisas

Sem levarem em conta que eu precisava caminhar,

Como se eu estivesse morto..

Antes que eu confessasse meu desejo mais perverso:

Que estive a ponto de voltar...

Insustentável

Me perguntavam coisas idiotas

Sobre os aspectos remotos

De uma vida tão comum

E não terminavam nunca

De recordar o que não vivia

Como refugiados de uma batalha perdida

E eu apenas me atrevia a respirar

Mostrando uma triste alegria

Até que de tanto morrer

Esta casa

Ficou sem ninguém um dia.

 

 

Mar aberto

Estou quebrado. Aqui dentro. Um quebrado que apenas uma única pessoa seria capaz de consertar. A mesma pessoa que me deixou em pedaços. Sou estranho. Sempre fui. Nunca fiz parte de nada. Sempre flutuei pelos espaços. E aí conheci você. E esse foi o meu problema. Fiz do seu abraço a minha paz. Segui pelo mar aberto. Não pensei. Só fui. Sem saber onde daria o outro lado do mar. E agora estou tão cansado de nadar. Não consigo chegar até o porto. Não consigo nadar de volta para o cais. Tenho que ser mais forte. Pedir ao mar por mais sorte. Tenho que aprender a navegar.
(Adaptações)

Olhos cor de conhaque

Você me olha desse jeito. E sua voz me faz querer dançar. Me gira pela sala. Ela canta uma palavra ou outra de uma música antiga. Me abraça. Me faz rir de uma bobeira qualquer. Seus olhos têm cor de conhaque. Ela diz que é poético. Diz que os meus têm cor de açúcar queimado. Gosto deles olhando pra mim. Assim não vejo o tempo passar. Faço tudo que ela quer. Ela me pergunta se estou bem. E me chama de meu bem. Respondo que estou feliz...e triste. -Triste? Tento explicar..é aquela tristeza da casa vazia. Da hora que te deixei ir. Embora. Ela riu. Como sempre fazia. Diz que queria ter ficado. Que precisa do meu abraço. Então digo que preciso deixá-la. Que ainda não sei direito o que fazer. E ela me deixa ir. Sem perguntar. Diz que ficará tudo bem. Me pede desculpa por querer ficar. Por querer que eu fique. Não digo mais nada. E vou. Ou eu que a deixei ir sem perguntar nada. Eu não queria ser como os outros. Acabei sendo. Mas...uma hora teria que acabar.

Hoje

Dispensei a cavalaria.
Pensei em me mudar.
Essa armadura não me serve mais.
Vou sair.
Beber alguma coisa.
Andar.
A chuva já não me molha quando cai.

Tempo

Me levantei. Caminhei pelo corredor. Caminhava comigo o som dos passos de uma multidão. Ele me perseguia.. dentro de mim. Ele caminhava pelo corredor. Com o silêncio. E com todas as coisas que não se viam no espelho e que eram parte de mim. Parte do que eu era. E com todas as coisas que, em vão, tentaram me matar. Sem a noção do tempo.

Por um descuido

Que descuido meu

Pisar nos seus espinhos

É essa mania minha

De olhar pro céu

Voando sem asa..

De olhar nos seus olhos

Tropeçar nos seus caminhos

Vez ou outra,

Esbarro nos móveis da casa.

 

 

(Adapt. Ouriço – Juliano Holanda)

O fim

Senti você pensando em mim.
Em como fazer pra me esquecer.
O que fazer.
Acho que eu também me senti assim.
Vi tudo escapando da minha mão.
A esperança sabia como era gostoso passear depois da tempestade.
Parecia realidade.
Mas ali na esquina a felicidade se perdeu na multidão.

Nós

Eu só queria ter você no coração.
Sem ter toda essa tristeza.
Mas toda paz é tão certa.
Quanto a alegria de saber lidar com a solidão.

 

(Adapt. Enquanto sós)

Estelar

Poeira de estrelas cintilantes
Pairando em um universo sem fim
Em noites escuras
Profundas
Intermináveis
...
Silêncios
...
Meteoros incontáveis
Partes de mim
Tão pequenas e brilhantes..
Me perco em suas constelações
Em sua magnitude estelar
Em seus signos tão mutantes..
Me perco em você
Nas estrelas do céu
Nas estrelas do mar

Não esquece de olhar para marte
De olhar o sol
Não esquece das voltas que a terra dá
Nem do amanhã
Não esquece de olhar
Não esquece de esquecer o que há para esquecer
Nem de pegar carona com um cometa,
Que passeia pelo espaço com sua cauda airada e radiante...
Não esquece de voltar

O mar, e tudo o que ele deixa ficar

Lembro da cor do seu vestido
Azul
Do vento que fazia ele dançar
Como o mar
Lembro da areia que caminhava junto aos seus pés
Descalços
E da brisa que embaraçava seu cabelo
Comprido
Das ondas que levam tudo
Sempre
Lembra do céu?
Azul
Lembro do calor da sua pele
Do sal
Das conchas que marcavam o caminho
Trilhado
Do seu encontro com a água do mar
Azul
Lembro do seu sorriso tranquilo
Me chamando
Do seu abraço apressado
Me esperando..
E se eu chorar não liga não, é só a maresia
A saudade dos dias que ainda não vivemos
E se eu cantar não chora não, é só poesia
A saudade do pôr do sol colorindo tudo o que temos.