Cores

Esqueci de trancar as portas.

Esqueci que quase nada importa.

Parece que sinto sua falta.

Parece que não.

Espero que a vida troque suas cores.

Espero que vocês se curem de todas essas dores.

Parece que deu tudo errado.

Parece que não.

Choveu o dia inteiro.

Lá em casa.

Nem o sol entrou.

Pela sala.

Nem a tristeza está lá.

Para argumentar.

Nem a vida parou.

Pra você entrar.

Parece que o tempo passou.

Parece que não.

Esqueci de disfarçar meu cinismo.

De dizer que não sou mais disso.

Parei pra olhar o que ninguém vê.

Vi você.

Esqueci de fazer sala pra sua visita.

Esqueci de molhar as flores.

Das frutas na fruteira.

De fazer parte da pesquisa.

Esqueci de dizer que o que sobrou de mim é tão démodé.

De tirar o som da tv.

Parece que tudo mudou.

Parece que não.

 

 

 

Chuva

Eu preciso de um abraço.

-Eu também.

Você tomando seu café.

Com leite.

Eu tomando o meu vinho.

Verde.

Gosto de ouvir as suas idéias.

Todas elas.

Quero ler o seu livro.

Quero ler os livros que me falou.

Até aquele que não tem fim.

rs...

-Gosto do seu carinho.

-De como cuida de mim.

E então eu descubro que não consigo dizer não.

Que tenho tanta coisa pra aprender.

Sempre terei.

Que gosto de como segura a minha mão.

De quando segura.

Descubro que o medo tem o direito de existir.

Mas que ele foge, quando te faço rir.

E esqueço do tempo.

Do pouco tempo.

E lembro do tempo.

De todo o tempo.

De que nada é em vão.

 

 

30 de setembro de 2018

Até lá...

Quero ver o sol da tarde. E essas coisas que ele traz. Quero estar no meio do furacão. Ver a bagunça que ele faz. Sentir o vento soprar. Quero ver a minha melhor parte. Cansei de carregar milhões de medos. Quero tomar um café. Tenho acordado cedo. E quando eu esquecer meu nome, Quero levantar do sofá. Perder o chão. Quero ver o tapete voar. No meio da sala de estar. Ver a panela de pressão pressionar. A torneira começar a pingar.

Pode ser o que você quer.
Ou o que eu tenho pra te dar.

Querendo, ou não.

Quero o gosto da coragem. Ver como deve ser envelhecer. Quero soltar o cabelo. Ver o que vai acontecer.

Esquecer.

Quero ver onde o céu acaba. E o jeito que você erra. Ou o jeito que você anda. Já nem sei dizer.

Quero uma vida inteira pra viver. E um segundo pra lembrar. Serei o que sobrar de mim.
Sem nada a perder.

Tô bem aqui..

Nove horas da manhã de um sábado.

Da janela dá pra ver o jardim, as calçadas do mesmo tom do céu, o vento varrendo folhas e papéis espalhados pelo chão, as flores que você plantou pra mim.

A saudade dificulta a imparcialidade...rs...Um copo de cerveja impera sobre a mesa. O olhar no infinito através da janela embaçada do quarto... E os encontros aconteciam.

Os lábios,

A saliva,

A vontade,

A voz,

Numa frase descontextualizada. Que lhe caiu como chumbo nas costas, no colo, nos ombros. E entrou como um furacão na sua vida, na sua alma, no seu passado, no seu sossego, nos seus sonhos...Bem em você, que nunca fala do passado. Só das coisas boas da vida.

Conversamos um pouco sobre existencialismo e literatura. Sobre sensações sinceras. Divididas, consentidas...E você falava com os olhos fechados. Propostas alienantes, Alienadas. Pra eu me perder...

E seus olhos encontraram os meus, quando seus lábios deixaram os meus. Sorria, sorrisos silenciosos. Deve ter pensado em mais alguma coisa, mas não disse...Muito complicado, e ainda assim tão fácil de entender.

Pluma de ferro

Apesar dos outros,
Dos medos,
Dos monstros nos meus pesadelos

Apesar dos dias repetidos que são tantos...
Das canções,
Dos lugares,

Apesar da chuva,
Da rua,
Da hora,

Apesar dos meus pensamentos,
Dos perigos,
Dos próximos momentos...

Sou o que resta da cidade
Das crianças,
Da humanidade...

Apesar de tudo
Ainda não vi algo tão pesado,
Tão pesado que esmagasse
Que parasse o tempo,
Que apagasse o fogo nos olhos
Que impedisse a fuga

Apesar da fuga constante
Tudo está em calma
Apesar do seu gosto em minha boca
Às vezes nunca te vi antes
Apesar do pulsar das minhas idéias
Consegui te olhar nos olhos

Apesar de tudo
Tudo ainda está em calma...

 

 

(Erika/Bruno) 2010 – Para registro

Devagar, meu bem

Canto e bebo toda noite
Mas não fale assim não
Cantei sem entender o que a letra dizia
Me misturo à multidão, vestida de você
Vou embora
Você me tira do eixo
Me deixa sem razão.
Eu sei que você andou bebendo a noite inteira
Só pra ficar mais perto de mim...

Mais perto de mim.

Devagar, meu bem...
Eu vou confessar
Dizer que nada é tão difícil assim
Hoje, com você, durmo de mansinho...
Eu vou voltar...
Vou chegar trazendo o sol
E um dicionário
Cheio de palavras que nunca vou usar.
Eu sei que eu não tenho o que dizer
Acabei dizendo qualquer coisa
Pensei em mil palavras, e enfim...
Nenhuma delas coube em mim.


2010 - Para registro